Categoria - Hermenêutica Bíblica

HERMENÊUTICA BÍBLICA

Russell P. Shedd

Em nossos tempos, a confiabilidade na interpretação da Bíblia tem decaído. O avanço notável do conhecimento humano nos campos da linguística, psicologia, história e arqueologia acrescenta inumeráveis fatos e opiniões que suscitam questões quanto à integridade de nossa compreensão das Sagradas Letras. A hermenêutica bíblica ganha importância crescente diante dos desafios de novos e velhos sistemas teológicos como a Teologia da Libertação, o dispensacionalismo, diversas visões escatológicas, a unidade dos dois Testamentos, a Nova Hermenêutica, o movimento carismático e muitos outros. Divergências colocam em dúvida a perspicácia da revelação de Deus na Bíblia. Esperamos lançar um pouco de luz sobre este tema, reconhecendo a necessidade de um diálogo mais extenso e profundo.

Hoje, os estudiosos alegam que a hermenêutica exige as capacidades do artista e do cientista. O artista deve imaginar o cenário cultural e histórico, as emoções e sentimentos que estão por trás do texto, para aplicar o ensinamento sagrado a novas realidades. O cientista aproveita as leis de pesquisa para chegar a conclusões seguras. Ele deve aplicar rigorosamente as regras da exegese para observar de forma objetiva o que diz o Senhor.

Os Dois Horizontes

Reconhecidamente é impossível se divorciar das influências culturais, pessoais e tradicionais que contaminam a visão do intérprete. Todos somos portadores de “pré-compreensões”[3], pois somos influenciados pela cultura e ambiente em que vivemos. Todos leem o texto com óculos que distorcem o sentido em seu favor. Trata-se do primeiro horizonte, o do leitor do século XX, com o desafio de escutar a voz do Senhor falando a nós, através das palavras dirigidas a outros leitores.

O segundo horizonte refere-se ao texto e autor bíblico. Quais as implicações culturais e históricas dos tempos e leitores bíblicos? A revelação divina veio por intermédio de seres históricos, com cultura e personalidade específicas. Compreender o que foi escrito é semelhante à tentativa de ler uma carta de uma pessoa desconhecida, escrita a um indivíduo igualmente distante de nós. Desde a Reforma, a centralidade da abordagem histórico-gramatical tem sido um pressuposto. Tenta-se conhecer o passado para compreender o recado para o presente.

O Elemento Divino

Outro aspecto, ainda mais complexo para o intérprete cristão, é a revelação divina na comunicação humana na Bíblia[4]. A inspiração pelo Espírito Santo garante a veracidade das palavras escolhidas pelo autor humano, sem contudo influenciar o estilo e a gramática deste. Seria legítimo descobrir um sensius plenior, um significado que vai além do que o autor humano queria conscientemente transmitir?

Ao longo da história houve expositores que propuseram alegorizar a Palavra e descobrir figuras e tipos, especialmente os messiânicos, para assim desvendar o elemento divino. Agostinho, por exemplo, reconhecia um significado oculto em cada detalhe da Parábola do Bom samaritano. O homem que descia para Jericó refere-se a Adão. Jerusalém significa a cidade celestial de cuja bem-aventurança Adão caiu. Jericó é a mortalidade do homem e os assaltantes representam o diabo e seus anjos. O bom samaritano é o Senhor Jesus Cristo.

Reconhecemos a ilegitimidade de identificações como as de Agostinho e dos alegoristas. O texto não controla sua mensagem. O intérprete usa a Bíblia como um trampolim. Alcançamos o pensamento do alegorista, mas não do autor bíblico. Duvidamos de que Jesus ou Lucas tivessem a intenção de transmitir verdades abrangentes como a queda e o restabelecimento do homem, sem tê-las indicado. A cosmovisão do intérprete ofusca a verdade da Palavra, se não existe nenhum meio pelo qual possamos definir qual era a mensagem que o autor queria comunicar. Em 1859, Benjamin Jowett, de Oxford, asseverou: “A Escritura tem um significado – o significado que ela possuía na mente do profeta ou evangelista que falou ou escreveu aos primeiros ouvintes ou leitores”[5]. Walter Kaiser concorda, oferecendo a seguinte definição: “Para interpretar devemos, em cada caso, reproduzir o sentido que o autor original pretendia dar às suas próprias palavras”[6].

A esta altura devemos reconhecer nossa dívida para com os reformadores que se opuseram ao método alegórico. Lutero desprezou esta maneira de entender a Palavra como “trapos obsoletos soltos”[7]. Calvino se apegou ao seguinte princípio: “As Escrituras interpretam as Escrituras”.

O Sistema Teológico Influencia a Interpretação

Estamos mais conscientes do que as gerações passadas de qual cosmovisão rege nossa interpretação. Pressupondo a unidade da Bíblia, pergunta-se qual dos sistemas teológicos se justifica frente ao fato de que as Escrituras interpretam a si mesmas: dispensacionalismo. Teologia da Aliança ou a Heilgeschichte (história da salvação)? Qual deles explica mais adequadamente a interligação entre as épocas e os dois Testamentos? Apocalipse apresenta uma descrição simbólica do contexto histórico-geográfico do autor e seus leitores ou é uma profecia do futuro? Quais são as distorções que a moldura de nossa teologia bíblica impõe à compreensão do texto? “A ilusão não está na busca de um ponto de partida, mas em procura-lo sem nenhuma pressuposição”[8]. A teologia bíblica que abraçamos afeta indiscutivelmente a compreensão que derivamos do texto. Assim, oponentes no campo de batalha da intervenção ficam convencidos de que os que discordam do dispensacionalismo ou da teologia da aliança impõem às Escrituras um sistema que as impede de gozar da liberdade de comunicar livremente a vontade de Deus[9].

O Ponto de Partida

Reafirmamos com E. D. Hirsch[10] que a interpretação autorizada não pode fugir da intenção do autor. Mesmo assim, não basta pensar que uma leitura superficial traduz o sentido completo da mensagem bíblica. O leitor deve esperar encontrar a confirmação do que ele crê. Mas algumas destas expectativas são frustradas e negadas, enquanto outras são acrescentadas. Assim, Gadamer conclui que a leitura da Bíblia funde os horizontes do autor e do leitor, o qual expande sua compreensão, entendendo o texto numa situação moderna e específica. O texto também desafia o leitor, questionando e modificando as pressuposições que ele traz ao texto. Cria-se uma espiral pela interação ou fusão dos dois horizontes[11].

Mas esta espiral da compreensão não deve ser individualista nem particular. Considere a conclusão de A. Thistleton: “Conceitos como ‘ser redimido’, ‘ser falado por deus’, são inteligíveis e ensináveis somente com base em uma experiência de certos padrões de comportamento. Assim como o significado de ‘dor’ depende de formas regulares de comportamento de todos os que têm dores, o significado de ‘redenção’ também depende de formas regulares de comportamento dos redimidos”[12]. Não foi assim que pensou S. Anselmo: Credo ut intelligam (creio para poder entender)?[13]. O ceticismo de R. Bultmann e de todos os racionalistas chega à mesma conclusão, no sentido de negar a realidade histórica dos fatos narrados, quando surge qualquer elemento sobrenatural. O pressuposto que determina a interpretação (e a espiral da compreensão) é que os milagres não ocorrem e nunca ocorreram. O valor do texto não se limita à verdade psicológica e religiosa detectada pela demitização. A mensagem bíblica, portanto, não pode ser aceita de modo simples e direto.

Certamente, não é confiável o intérprete que conclui que aquilo que ele entende é a verdade pelo fato de que ele crê e o texto é claro, acessível ao senso comum. Também não tem razão o intérprete moderno que, subjetivamente, abandona a busca da verdade. Tudo é relativo. Deus nunca interveio na história[14].

Quem está ancorado na certeza de que Deus revelou-se juntamente com a sua vontade no cânon bíblico deve usar a analogia da fé para testar toda interpretação de textos. A afirmação de Terry continua em pé: “Nenhuma afirmação ou passagem obscura de um livro (da Bíblia) deve receber permissão para anular uma doutrina claramente estabelecida por muitas passagens[15]. Desde a época patrística e sua regula fidei, intérpretes crentes reconhecem a analogia da fé e a perspicácia da Bíblia. Todas as partes vêm de Deus, oferecendo um contexto abrangente para iluminar e corrigir qualquer interpretação de uma parte[16].

O Fundamento Histórico-Gramatical para uma Hermenêutica Segura

Qualquer interpretação segura de um texto exige algum conhecimento dos antecedentes linguísticos, históricos, culturais e geográficos da passagem. Não levar isto em conta é como pilotar uma aeronave sem instrumentos, no meio das nuvens. Como explicar a razão pela qual um anfitrião acordaria um vizinho, à meia-noite, para tomar emprestado três pães, sem que se saiba o mínimo acerca dos costumes da época?[17] Se o intérprete também não reconhecer a intenção original de Jesus e de Lucas, ao incluírem esta parábola, ele provavelmente errará o alvo. Mais ainda, detectar as intenções de um autor bíblico, por intermédio dos instrumentos mais científicos ao nosso alcance, não atinge o cerne do problema. A hermenêutica pretende chegar a conclusões mais arrojadas e relevantes. Qual seria a vontade de Deus revelada no texto escriturístico?

Exegese, o principal fundamento da hermenêutica, exige mais do que uma compreensão razoável das palavras e da sintaxe que o autor bíblico usou. Um léxico como o de Bauer-Arndt e Gingrich, acompanhado por uma gramática segura possibilita receber a mensagem que o autor bíblico quis comunicar. Mas devemos nos aproximar do autor para verificar a intenção que está por trás de seu documento. Entender inclui mais do que poder explicar palavras e frases, Requer uma penetração na intenção ou propósito da mensagem transmitida.

As autoridades nos campos da linguística e da semântica advertem-nos de que entender palavras não significa entender uma frase ou parágrafo fora de seu contexto. Toda frase ou período. Toda frase ou período encontra-se na sua “situação”, seu contexto histórico e literário[18]. Pode ser que um indicativo gramatical seja imperativo, de acordo com o sentido que o autor queria transmitir. Isto levanta questões importantes para a hermenêutica. Estaria certa a ideia de R. Bultmann, que afirma que a declaração: “Deus julgará os homens no último dia”, quer dizer: “Aja de maneira responsável no presente”?[19]. Entretanto, negar a realidade de um julgamento futuro parece um ato irresponsável, à luz do pensamento dos cristãos e judeus contemporâneos. Traduções “dinâmicas” das Escrituras podem inculcar pensamento moderno ao texto sem legitimidade.

O Campo Semântico

Faz-se necessário pensar mais sobre a comunicação. É evidente que o sentido de um texto pode ser descoberto, sem, contudo, se desvendar seu significado. O simples fato de entender vocábulos não quer dizer que alcancemos a mensagem que deveriam transmitir. Por isso, o sentido não pode ser detectado simplesmente pela compreensão das unidades chamadas “palavras”[20]. O dicionário generaliza o significado de um termo. Logo em seguida, um bom dicionário acrescenta uma série de significados distintos, modificados pelo contexto semântico. O campo semântico oferece os limites ou parâmetros para o intérprete, mas não garante que dois expositores extrairão a mesma mensagem do texto.

A etimologia dá informações sobre a história do significado de um termo, mas não lança luz clara sobre o significado sincrônico e oferece pouca ou nenhuma ajuda na busca do sentido pretendido pelo autor. Não é o significado de um termo em Homero ou Platão que nos conduzirá ao sentido real num texto do NT. Há um exemplo que N. Snaith oferece, quando busca o significado de “bem-aventurado o homem”, do Salmo 1.1 A origem da palavra hebraica traz a ideia de “passo” ou “proceder diretamente”. Assim, o salmista reputa como abençoado o homem que procede diretamente e não se desvia. Mas, por certo, o autor não pensava nessa ligação![21]. Realmente, o valor semântico de uma palavra se determina apenas pelo uso e seu ambiente. Assim ocorre com o preço de um terreno no centro de São Paulo, hoje, ou no interior do Mato Grosso, há vinte anos. O princípio de J. Trier declara que uma palavra tem sentido “apenas como parte de um todo… dá o seu significado somente num campo semântico”[22]. Assim, o termo “espírito” (pneuma) recebe o sentido do contexto com o qual se associa: vento ou a essência que anima a pessoa humana, um anjo ou o Espírito Santo.

Palavras devem ser interpretadas em associação com ideias complementares. Chariti (graça) entende-se no ambiente oposto a ex ergōn (pelas obras). Mas, estaria E. Güttgemanns correto, ao concluir que a justiça de deus, em Romanos 1, é o oposto da ira de Deus?[23]. O Gênero da literatura a ser interpretado e o conjunto de ideias teológicas abrem a porta para se alcançar o objetivo da comunicação do autor.

J. Keegan apresenta uma visão recente da hermenêutica, onde narrativas inteiras se assemelham a palavras. Se não podemos nos situar no contexto histórico em que a narrativa foi usada, não é possível entendê-la. Não podemos alcançar os eventos reais, mas apenas uma reconstrução baseada em formas que influenciaram a narrativa tal qual Mateus ou Lucas a escreveu[24]. Desligados dos eventos que ocorreram, moldado pelas igrejas e finalmente escritos, os evangelhos, segundo Keegan, não oferecem fatos históricos, mas preocupações dos evangelistas. Quem aceita esse pressuposto vê na Bíblia apenas reflexos do pensamento e cultura humanos, nunca a Palavra de Deus.

Os intérpretes estruturalistas movimentam-se na mesma direção dos críticos da forma, da redação e do cânon. Tudo é relativo, interpretações criadas na mente do intérprete, incapazes de reproduzir a realidade objetiva. Assim colhe-se o fruto do pensamento de I. Kant. Não é possível recuperar a realidade, além da concepção na mente do intérprete. Reina o relativismo. A objetividade de definha e desvanece. O significado depende do leitor[25].

Seria difícil imaginar um inimigo tão perigoso para a fé cristã como um subjetivismo puro, tal qual o produzido pela “crítica da resposta do leitor”. Se não existe conteúdo objetivo[26], qual seria o caminho par deus ou para o conhecimento de Jesus, o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14:6)? Se a vinda do Filho de Deus para o mundo e Sua morte e ressurreição são mitos, como descobriremos a segurança salvadora que a Bíblia oferece tão confiantemente?

O individualismo e subjetivismo nos moldes da hermenêutica moderna explicam a erosão da autoridade bíblica nos círculos mais progressistas das igrejas do Primeiro Mundo. A Igreja Católica não sente profundamente a ameaça da Bíblia em oposição à tradição. Em contraste com os tempos anteriores ao Concílio Vaticano II, em que a leitura da Palavra de Deus criava um desconforto perigoso para a hierarquia romana, hoje se promove a distribuição e leitura da Bíblia. A explicação é simples. A Bíblia tem várias mensagens: Teologia da Libertação, teologias conservadora, tradicionalista e carismática, dependendo da interpretação que os leitores modernos queiram lhe dar. A Bíblia, que faria a Igreja voltar às suas raízes do primeiro século, não será temida enquanto não existir uma convicção total do significado e veracidade de sua mensagem.

Glorificamos a Deus pela coragem de homens como Lutero e Calvino, que hastearam a bandeira da Sola Scriptura. Hoje temos de acrescentar: a Bíblia, entendida como foi pelos primeiros leitores, com discernimento e aplicação de suas verdades a todo nosso contexto cultural, sociológico e histórico. Enfim, ao lermos as páginas sagradas, devemos perguntar: “Que Deus quer?” Como Ele deseja se relacionar com a igreja (local e no cenário mais amplo)? Que ordena Ele quanto às relações entre o marido e a mulher, sobre os negócios, a família, tempo e espaço, presente e futuro?” A orientação divina, no meio das espessas trevas da especulação e opinião humanas, tem importância central.

Quando lemos as Escrituras ao nosso modo, com objetivos pessoais ou sócio-políticos, não é de admirar que as conclusões surjam tão distintas umas das outras. A esperança universalista de redenção completa de toda a humanidade encontra suas raízes numa interpretação utópica, que não faz caso da separação irreconciliável entre o reino de deus e o presente mundo (houtos aiōn).

Emil Brunner deixou clara esta descontinuidade, quando escreveu: “Em lugar nenhum no NT encontramos qualquer expectativa de que, através dos séculos, a humanidade se tornará cristã, de modo que a oposição entre o mundo e a Igreja seja anulada dentro da história e do tempo. Mas o contrário é verdadeiro. A comunidade cristã ou Igreja se manterá como minoria até o fim e, portanto, a batalha entre as forças das trevas e as forças de Cristo continuará até o dia do julgamento. Se houver verdade nos quadros apocalípticos que encontramos no NT, temos que dizer ainda mais. As visões apocalípticas são unânimes em descrever o fim do tempo, aquela última fase da história da humanidade, antes da vinda do dia de Cristo, como um tempo de tensão total entre a luz e as trevas, a Igreja e o mundo, Cristo e o diabo”[27].

A Necessária Iluminação do Espírito Santo

A clarinada que nos é proposta é de fundir nosso horizonte da compreensão do texto com o das Sagradas Letras, para nos apoderarmos dos princípios, argumentos e coerência do conteúdo bíblico, fazendo o máximo para torná-lo nossa vida. Jesus falou a seus seguidores confusos: “O espírito (Espírito?) é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito, são espírito e são vida.” (Jo 6:63). No meio da jornada, a compreensão daquilo que Ele acabou de falar não seria possível, mas, com a chegada do Espírito (Jo 16:13), a mensagem das palavras descontextualizadas teriam seu campo semântico na realidade da Igreja posterior ao Pentecoste (At 2), dando aos ensinamentos do Mestre condições para uma hermenêutica adequada. Pedro estava certo em não desistir: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna.” (Jo 6:68).

Paulo endossa o mesmo ponto de vista, ao recomendar a Timóteo que permaneça naquilo que aprendeu, sabendo as Sagradas Letras, “que podem tornar-te sábio para salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3:14,15). Parece inegável que Timóteo já cria e obedecia ao que entendia da Bíblia, com ajuda de Paulo e das muitas testemunhas que o auxiliaram (2Tm 2:2). Contudo, nem por isso, o apóstolo sugere que seu amado filho na fé poderia descansar, por haver alcançado o auge da verdade e nada mais existir para aprender. O fato de ficar aquém da vontade divina na obediência parcial obriga o intérprete a humildemente contemplar a “glória do senhor, como por espelho”, para ser transformado “de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2Co 3:18). O espelho, neste contexto, deve ser a Palavra. O intérprete que entende as palavras, mas não é transformado, é descrito nos versículos anteriores como igual aos judeus das sinagogas do primeiro século. Mantém-se o véu entre a mente e o texto. Os sentidos deles se embotaram, pois lhes faltou o essencial: a fé que conduz à obediência à verdade (2Co 3:14; 1Pe 1:22).

Certamente os pobres de espírito herdarão o reino (Mt 5:3), não porque receberam as melhores notas nos cursos de hermenêutica no seminário ou escreveram os comentários que mais perfeitamente explicaram o sentido do texto, mas porque entenderam melhor a mente de Cristo (1Co 2:16) e, entendendo-a, adotaram-na para si (Rm 12:2).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Vox Scripturae 1(2), setembro 1991.[2] Russell Philip Shedd, Ph.D, professor titular de Novo Testamento na Faculdade Teológica Batista de São Paulo.[3] Cf. Donald E. Price, “Epistemologia e Contextualização: Implicações para o Currículo”, Compêndio da Primeira Consulta com Professores de Missões (São Paulo: APMP, 1990) 13.[4] Veja R. J. Sturz, “A Palavra que Prende e Liberta”, Vox Scripturae I:1 (março 1990) 3-10. W. C. Kaiser Jr. Argumenta que o fator de inspiração em nada modifica a regra básica; interpretar quer dizer reproduzir o sentido que o autor bíblico queria dar às palavras que ele escreveu. D. K. Kim, ed., “Legitimate Hermeneutics”, em A Guide to Contemporary Hermeneutics (Grand Rapids: Eerdmans, 1986) 117.[5] “On the Interpretation of the Scripture”, em Essays and Reviews (Londres: Longman, 1961) 378, citado por D. C. Steinmetz, “The Superiority of Precritical Exegesis”, em A Guide to Contemporary Hermeneutics (Grand Rapids: Eerdmans, 1986) 65.[6] “Legitimate Hermeneutics”, em ibid. 112.[7] H. A. Virkler, Hermeneutics (Grand Rapids: Baker, 1981) 65.[8] Hans-Georg Gadamer, Truth and Method, trad. e ed. G. Barden e John Cumming (Nova Iorque: Continuum, 1975) 240, citado por Roger Lundin, em the Responsibility of Hermeneutics (Grand Rapids: Eerdmans, 1985) 25.[9] Cf. D. A. Carson, “Factors determining Hermeneutical Debate”, em Biblical Interpretation and the Church, D. A. Carson, ed. (Exeter: Paternoster, 1984) 21.[10] Validity in Interpretation (New Haven/London: Yale University Press, 1967).[11] Lundin, 25.[12] Anthony Thistleton, The Two Horizons (Grand Rapids: Eerdmans, 1980) 382, citado em R. Lundin, op.cit. 26.[13] Lundin, 26.[14] Cf. Francis A. Schaeffer, He is There and He is Not Silent (Wheaton: Tyndale House, 1985) p. x.[15] Grant Osborne na sua apostila de Hermenêutica, p.75.[16] Os rabinos do primeiro século apelaram para este princípio: a Bíblia explica a Bíblia. Cf. René Bloch, “Midrash”, Dictionnaire de la Bible Supplement, vol. V (Paris: 1957), col. 1263-1281.[17] Kenneth Bailey, As Parábolas de Lucas (São Paulo: Vida Nova, 1989) 103-125.[18] Anthony Thistleton, “Semantics and New Testament Interpretation”, em New Testament Interpretation, I. Howard Marshall, ed. (Exeter: Paternoster, 1977) 75.[19] Anthony Thistleton, “Semantics”, 77.[20] Cf. A. Berkeley, Mickelsen, Interpreting the Bible (Grand Rapids: Eerdmans, 1963) 128.[21] A. C. Thistleton, “Semantics”, 80.[22] A. C. Thistleton, “Semantics”, 90.[23] Em Studia Linguistica neotestmentica, 87-93, citado em A. C. Thistleton, “Semantics”, 92.[24] Terrence J. Keegan, Interpreting the Bible (Nova Iorque: Paulist Press, 1985) 32-39.[25] Cf. Keegan, 81.[26] Cf. Keegan, 80.[27] The Scandal of Christianity (Filadélfia: 1951), citado em E. E. Ellis, Pauline Theology: Ministry and Society (Grand rapids: Eerdmans, 1989) 22.

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