Paul Martin

Em um mundo de crescente desconectividade e números declinantes no ministério vocacional, não deveria soar como surpresa que as dinâmicas relacionais de desenvolvimento ministerial estão sendo revisitadas.

Expressões como mentor, grupo pequeno, e grupo de responsabilidades (prestação de contas) são zumbidos ressaltando as questões sintomáticas que resultam da falta de relacionamentos significantes.

O ministério requer relacionamentos abertos e confiáveis. Sentimentos, comportamentos ou atitudes impróprias inflamam quando cobertas com um manto de segredo. Infelizmente, com frequência maior do que queremos admitir, isto rende o homem de Deus espiritual e emocionalmente aleijado.Talvez “conhecer e ser conhecido” fosse um chamado oportuno para todos os líderes na igreja do Senhor. Jesus tinha três círculos íntimos de amigos. O apóstolo Paulo tinha seus companheiros confiáveis de ministério, como registra todo o Livro de Atos. John Wesley tinha o Clube Santo (Holy Club), repleto de uma série de questões de sondagem que iam muito mais além do “Quanto você está correndo?” ou “Qual o resultado de sua partida de futebol?”.Eu, às vezes, fico a imaginar, quem de fato me conhece — os meus sentimentos, minhas lutas, minhas fraquezas?Alguns pastores acreditam que tenham relacionamentos de prestação de contas de longa distância. Na verdade, porém, para a maioria, somente o que é partilhado de bom grado é o que é conhecido. Alguns têm a expectativa de que uma plataforma pública os forneça salvaguarda; outros se associam a um grupo pequeno.A prestação de contas não é garantida por um certo relacionamento desde que o relacionamento propriamente não tenha a habilidade de fazer-nos responsáveis. Devemos nós mesmos nos tornar responsáveis. A menos que de bom grado alguém se submeta a outro, a vulnerabilidade de uma vida duplicada permanece. Transparência, abertura, honestidade, etc. não podem jamais ser impostas; antes, elas provêm de um senso de temor ao Senhor.No dia em que o número de ministros cristãos estiver em drástico declínio, talvez uma revisita a alguns relacionamentos ministeriais básicos possam ajudar a mudar o curso dos acontecimentos. Pelo menos três relacionamentos chaves emergem de uma visão global dos modelos de ministério no Livro de Atos. Talvez, através de uma aplicação piedosa desses exemplos e da introspecção de nossos próprios relacionamentos ministeriais, o Espírito Santo possa iluminar nossas realidades. Que pela graça de Deus casualidades futuras entre líderes cristãos possam ser evitadas.

Seja um Barnabé

Podemos imaginar se Paulo o teria feito sem Barnabé. A poeira de Damasco pode ainda ter ficado sobre as sandálias de Paulo. O temor das ameaças mortais de Paulo àqueles no Caminho eram ainda uma realidade quando Barnabé o conduziu aos apóstolos e comprovou a veracidade de seu testemunho (At 9.26-27). Barnabé não precisava ter feito isto, mas seu ato de encorajamento foi que propiciou o vínculo necessário entre Paulo e o cumprimento de seu chamado. Muitos anos depois, Barnabé foi preparado pelo Espírito Santo para procurar Paulo (At 11.25). Sem dúvida, o testemunho da estrada para Damasco havia sido esquecido pela maior parte das pessoas, mas não por Barnabé.Fazendo jus a seu nome, Barnabé parecia estar sempre procurando alguém a quem encorajar no ministério. O construtor de tendas de Tarso havia aparentemente sido negligenciado pela igreja estabelecida e ignorado para atribuições ministeriais significantes. Mas Barnabé lembrava. Por causa da influência de Barnabé, a igreja de Antioquia encontrou um lugar para Paulo e ajudou-o a desenvolver relacionamentos confiáveis e um respeitado ministério de ensino (At 11.26; 13.1-2).Esta não foi a única vez que Barnabé tomou uma iniciativa desta natureza. Lembra de João Marcos (At 15.37)? Independente da bagagem ou da falha do passado, Barnabé estava lá.Quantos ministros tem precisado de um Barnabé nos dias de hoje para acompanhá-los e dar uma oportunidade ministerial? Quantos ministros abatidos sentam-se nas laterais por causa de uma falha? Sua igreja não cresceu. O voto não foi forte o bastante para permanecer. O programa foi um desastre. Um casamento ou relacionamento familiar desintegrou-se. Onde está o irmão ou irmã do gênero Barnabé do primeiro século para buscar o esquecido, acreditar na chamada divina, esperar pelo melhor?
O século XXI necessita de números maiores de ministros com a forma de pensar de Barnabé. Desertar o chamado é pandemia. Seja um Barnabé. Os sofredores silenciosos estão escondidos na sombra do sucesso de outros. Seja um Barnabé. O desafio está na nossa frente. Perscrute a topografia para encontrar o desviado, o negligenciado, o rejeitado. Seja um Barnabé. Procure alguém que tenha falhado e esteja desencorajado. Seja um Barnabé. Reter nossos ministros certamente ajudará a reverter a tendência de números decadentes no ministério vocacional.

Siga um Paulo

Muito tem sido falado hoje a respeito de mentorear. A necessidade, sem dúvida, vem se exacerbando pelas realidades sociológicas do século XXI. O colapso nas casas onde filhos e filhas têm relacionamentos distantes ou inexistentes com seus pais certamente tem exercido um efeito negativo sobre o desenvolvimento da liderança. Em épocas passadas, o filho trabalhava juntamente com o pai, aprendendo não somente habilidade e competência, mas também comportamento e valores. Onde isto acontece hoje? Colegas em uma sala de aula aprendendo teoria?A vida real é diferente da teoria de laboratório. Uma educação em si não prepara ninguém para a vida. Da mesma forma que um avião possui duas asas, o cognitivo deve ser equilibrado com aplicação prática.Pense na lista de indivíduos no Novo Testamento que foram impactados pelo apóstolo Paulo. Isto aconteceu em uma sala de aula formal com Tito, Onésimo, Lucas e Silas? Provavelmente não. Antes, o treinamento fundamental deles nas Escrituras foi baseado em contexto e aplicação, uma vez que o ministério apostólico ia de cidade em cidade.Quem é o Paulo do século XXI que você está seguindo? A observação nos diz que o mentoreamento não é mais bem cumprido através de um programa formal. O mentoreamento acontece melhor quando a pessoa que deseja formação o busca.“Você irá mentorear-me?” não é, provavelmente, a pergunta certa. Mentoreamento ocorre à medida que assistimos, ouvimos, servimos, seguimos, aprendemos, lemos, respigamos, emulamos.No dia de Elias, este processo ocorreu, pois “ambos foram juntos” (2Rs 2.6). “Tão certo como vive o SENHOR e vive a tua alma, não te deixarei” personifica a decisão de Eliseu de seguir Elias. Cada ministro precisa seguir alguém que se exceda em alguma área da vida ou ministério. Graças à tecnologia e ao deslocamento do século XXI, o mundo todo está aberto para nós através da mídia impressa — clássica e atual — fitas, CDs interativos, internet, conferências e rede de relacionamento. Isto permite a qualquer ministro, onde quer que esteja servindo, conectar-se com qualquer líder cristão, em qualquer lugar.Mentorear não é algo que alguém faça por outra pessoa; é o resultado de uma busca diligente da vida e do ministério de outra pessoa. Assim sendo, siga um Paulo. Olhe em volta. Sintonize em alguém que você respeite. Peça piedosamente a Deus para conduzir você a influenciadores que possam exercer um impacto formativo sobre sua vida.Seguir um Paulo não é uma atividade solitária para o ministro mais jovem. Todos podem se beneficiar sendo eternos aprendizes. Siga um Paulo. Talvez a taxa de atrito dos ministros possa ser normalizada.

Treine um Timóteo

Um terceiro relacionamento chave para o desenvolvimento de um ministro que observamos no Novo Testamento esteja personificado em treinamento. Quando, como ministro, você encontrar um seguidor motivado e disposto, tome tempo, gaste energia e invista em treinamento.O treinamento é uma atividade cíclica envolvendo instrução, implementação, observação e avaliação. Neste modelo, o evento de ensino/instrução é tão somente um componente no processo de treinamento. O treinamento dá oportunidade futura para implementação e observação com feedback avaliativo, seguido de uma instrução futura à medida que necessário com o ciclo em continuidade.O treinamento intencional é necessário nas fileiras de nossos ministérios hoje. As habilidades precisam ser aprendidas e as competências precisam ser refinadas. Muitos jovens Timóteos precisam desesperadamente aumentar sua eficácia. Precisam ser bem treinados.Enquanto o resultado principal pode ser o de o jovem ministro ser treinado e tornar-se mais eficaz, muitas coisas acontecem como um subproduto desta atividade. O benefício também ocorre para quem está aplicando o treinamento. À medida que compartilha os princípios, estes são reforçados mais adiante na mente e no coração do instrutor, fortalecendo, assim, a fé e a decisão no treinando. Além disso, uma certa dose de prestação de contas é aplicada à vida do treinador, “para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.” (1Co 9.27).

Ademais, a alegria brota no coração de quem está investindo energia no treinamento quando aquelas pessoas influenciadas tornam-se eficazes no serviço a Deus. Referindo-se ao amigo Gaio, o apóstolo João disse: “Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade.” (3Jo 4).Ministros bem treinados têm um potencial maior para a longevidade no ministério, da mesma forma que os maratonistas bem treinados têm uma melhor chance de concluir a corrida. Treine um Timóteo. Além disso, o processo e a disciplina de treinar outra pessoa podem exercer um efeito positivo no instrutor por meio de reforçar a verdade; propiciam responsabilidades (prestação de contas) e acrescentam um fator de alegria ao ministério.

Conclusão

Se todo ministro procurasse ser um Barnabé, seguir um Paulo e treinar um Timóteo, muitos ministros nas laterais ou nas arquibancadas poderiam estar ativos nas designações ministeriais. Em busca do tão necessário mentoreamento, os ministros, como eternos aprendizes, poderiam estar mais bem preparados para a longa jornada. Quando mentoreados, jovens ministros serão mais eficazes no trabalho ministerial. E aqueles que se oferecem para treinar serão adiante encorajados e resguardados ao longo da caminhada rumo “ao prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Fp 3.14).Quanto mais ministros bem aparelhados tivermos ativos no ministério para a longa caminhada, mais positivo e profundo o efeito sobre o número declinante de ministros. Seja um Barnabé, siga um Paulo e treine um Timóteo.